Por que não se cala?

O matutino de Lisboa “Correio da Manhã”,publicou no passado domingo mais uma crónica assinada por Emídio Rangel (ER) intitulada «”Hooligans” em Lisboa». Este jornalista descascou de alto a baixo nos professores chamando-lhes “hooligans”, “pseudoprofessores” entre outros epítetos que deixou furibundos todos aqueles que o leram.
O autor do texto declara ter “vergonha destes pseudoprofessores que trabalham pouco, ensinam menos, não aceitam avaliações”. Eu digo que ele não sabe o que diz. Não sabe e apenas pretende provocar, insultando acintosamente os docentes. Insultando o ensino nacional que, ao que diz, já serviu. Não pretendo perder tempo aqui a desdizer aquilo que ER refere no que toca ao trabalho dos professores, pois seria “gastar cera com fraco defunto”. Julgo que ER perdeu o respeito pelos professores e estes, depois deste seu deplorável despautério, jamais o respeitarão.
Ao declarar “Lembro-me bem dos meus professores. Não tinham nada que ver com esta gente” ER entra num caminho de saudosismo e de uma comparação balofa e falsa pois, como ele muito bem sabe, os professores de hoje, tal como os de antigamente, constituem referências para os seus alunos. Boas referências! Referências únicas e inolvidáveis!“Os professores colaboraram com um sistema iníquo que permitia sem limites baixas prolongadas sem justificação e incumprimento dos programas escolares”. Fala por falar, oco de argumentos que sustentem as ideias parvas que, com destêmpera, tenta defender. Não conhece o que está em causa, embora se arme em estudioso de uma matéria que não preparou. É verdadeiramente inadmissível!
Estou certo que ER, mais cedo ou mais tarde, irá retratar-se, pedindo desculpas aos professores portugueses. O que escreveu carece de fundamento e de verdade e seguramente ofendeu quem tudo dá pela educação e ensino nacionais, o que não é o caso dele e duvido que tivesse sido no passado, pois, ao que diz, foi professor dos ensinos secundário e universitário. Como pode alguém que já passou pelo ensino enquanto docente proferir tais dislates?
A tentação de opinar sobre educação é cada vez maior. Para muitos tornou-se um tema tipo futebol sobre o qual todos sabem e podem dissertar. É lamentável, pois pretendendo facciosamente agradar a determinada parcela da sociedade, acabam por lançar a confusão numa área que necessita cada vez mais de diálogo e entendimento.
Prestando ER um mau serviço ao jornalismo e à educação nacional, por que não se cala?

Filinto Lima in ,O Primeiro de Janeiro 13-03-08