(Antiga Escola Teixeira Lopes)

maio 25, 2008

Educação vs pobreza

O Conselho Nacional da Educação (CNE) apresentou um estudo sobre a educação da criança portuguesa até aos doze anos.
Para além das recomendações pedagógicas que deu à estampa, indica três factores que afectam a aprendizagem dos nossos alunos: elevada taxa de pobreza infantil, baixo nível de instrução dos pais e desigualdades sociais.
Este órgão consultivo, independente em matéria de política educativa põe, o dedo na ferida de um problema que não pertence só às escolas, como é o da dificuldade na aprendizagem.
Querem fazer-nos acreditar que a escola vai ganhando cada vez mais funções, sendo o único agente responsável pela educação e ensino dos alunos, sobretudo quando as coisas correm menos bem, sendo obrigada a oferecer os louros a outros quando tudo corre sobre rodas!
Tamanha injustiça!
A responsabilidade na educação e ensino não é unicamente da escola e esta, juntamente com outros organismos e instituições, deve tentar encontrar caminhos para o sucesso dos nossos jovens, quer enquanto alunos quer enquanto futuros cidadãos de uma sociedade cada vez mais competitiva e feroz. Em redor da instituição escola deve estar um conjunto de ferramentas que colaborem eficazmente no sucesso escolar dos discentes.
Segundo este estudo, a pobreza atinge 23% das crianças portuguesas, o que representa uma taxa mais elevada do que a da população adulta, que é de 21%. Muitas vezes esta pobreza traduz-se em tomar a única refeição quente e completa na escola. As escolas têm isto em atenção, não só através da acção social escolar como também do olhar atento daqueles que todos os dias lidam nestes espaços educativos com uma heterogeneidade de pessoas. O certo é que enquanto este problema não se encontrar solucionado, a aprendizagem não poderá atingir um expoente capaz de nos posicionar no mesmo nível dos países europeus mais desenvolvidos. De barriga vazia ninguém aprende nada, pois a alimentação é uma necessidade básica, mais premente que a literacia. Falar de políticas educativas é importante, mas resolver este problema é crucial e julgo que isso não passa somente pelo Ministério da Educação.
O baixo nível de instrução dos pais também é referido pelo CNE como um factor que afecta a aprendizagem, sobretudo quando estas importantes figuras se demitem do seu papel educativo e desvalorizam a escola, transmitindo aos seus educandos a imagem quantas vezes negativa de um local que deveria merecer mais respeito, carinho e dedicação por parte de toda a comunidade. O inverso também se verifica, ou seja, pais pouco letrados mas com enorme vontade de darem aos seus educandos aquilo que não lhes foi proporcionado no seu tempo. São casos que, não sendo raros, são de louvar. Muitas vezes são estes próprios encarregados de educação que dão o exemplo aos seus educandos concluindo ou prosseguindo estudos no âmbito das “Novas Oportunidades”.
As desigualdades sociais como factor que afecta a aprendizagem é algo que merece ser ponderado, analisado e discutido em todas as suas vertentes, pois muitos pedagogos reconhecem na heterogeneidade dos alunos uma mais-valia para a sua formação integral, embora seja de ter em conta as vantagens que uma homogeneidade pode oferecer.
A escola e a sociedade devem lutar e trabalhar lado a lado, de forma a que todos os nossos alunos aproveitem as vantagens inigualáveis da instituição educativa, que muito contribui para a formação integral e completa do aluno e do cidadão.


Filinto Lima in ,O Primeiro de Janeiro

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