(Antiga Escola Teixeira Lopes)

fevereiro 21, 2012

Patrono do Agrupamento

Entrevista ao Dr. Costa Matos

No passado dia 15 de Dezembro de 2012 as repórteres do E.T.L. escolheram como personalidade do mês, o Dr. Costa Matos, que dirigiu a nossa escola durante 22 anos e que atualmente dá o nome ao agrupamento.


E.T.L. – Quando é que começou a trabalhar nesta escola?
Dr. Costa Matos – Comecei a trabalhar nesta escola em Outubro de 1980. E foram 22 anos como presidente do conselho directivo.

E.T.L. – Que disciplina leccionou?
Dr. Costa Matos – Leccionei História.

E.T.L. – A escola Teixeira Lopes sempre se localizou na Rua José Fontana?
Dr. Costa Matos – Não, esta escola tem muita história. Antigamente em Portugal existia o ensino primário (só o primário é que era obrigatório) e secundário. O ministério em 1968 decidiu criar um novo ciclo de estudos de transição da 4ª classe para o secundário, o ensino preparatório que passou a ser obrigatório. A maior parte das escolas que integrou este novo ciclo funcionou em edifícios alugados como foi o caso da Teixeira Lopes. A escola Teixeira Lopes em 1968 começou a funcionar numa moradia particular na Rua Raimundo de Carvalho em frente à Igreja de Mafamude. Durante 5 anos, a escola manteve-se naquela moradia. Era uma moradia grande e antiga de 3 pisos e com 8 salas grandes. Não tinha refeitório tinham de ir almoçar à escola António Sérgio ou ao Liceu de Gaia. O recreio tinha camélias bonitas e árvores grandes. O recreio era comum mas as turmas não eram mistas. Eram cerca de 300 alunos. Quando esta escola entrou em funcionamento eu cheguei a ir espreitar essa escola (a da Rua Raimundo de Carvalho). Vim em Outubro de 1980 para aqui. Antes de vir para esta escola estava na escola Leonardo Coimbra que se localizava na Rua de Serralves, no Porto. Eu vivia e vivo em Gaia e naquela altura convinha mais vir para esta escola e assim troquei com uma professora de História, que vivia no Porto.

E.T.L. – Quando veio para esta escola veio logo para uma função diretiva?
Dr. Costa Matos – Sim pois em Julho de 1980 houve eleições e eu e mais um grupo de 4 professores da Teixeira Lopes candidatámo-nos às eleições. Quando vim ocupar o lugar em Outubro já era presidente, eleito por este grupo em reunião anterior.

E.T.L. – Que memórias guarda das diferentes fases da escola?
Dr. Costa Matos – Na escola Leonardo Coimbra só existia a preparatória. Inicialmente quando vim para aqui só existia a preparatória, o 5º e 6º ano. Em 1985 começou a haver o 7º ano e depois o 8º e 9º anos (ficando este ciclo obrigatório) e assim passou a chamar-se EB 2/3 Teixeira Lopes. Acho que esta instituição educativa ficou mais enriquecida. Mais tarde, com o crescimento do número de alunos, foram construídas outras escolas na cidade de Gaia.
E.T.L. – Como é que viveu as diferentes reformas do ensino?
Dr. Costa Matos – Antigamente os professores, quando eu era aluno como vós, os professores falavam e os alunos ouviam. Só falavam os professores e não deixavam participar os alunos. O ensino, na época, era muito monocórdico. Havia mais respeito pelos professores e pelos pais. As aulas eram muito mortiças e a preocupação maior era o desenvolvimento da memória. Os professores queriam que os alunos soubessem reproduzir os assuntos das várias disciplinas. Hoje houve uma evolução grande, os professores estão mais próximos dos alunos, convidam-nos para participar e assim os alunos ganham mais competências e conhecimentos. Os professores desenvolvem a capacidade de raciocínio dos alunos e estes são convidados a construir conhecimento com base em dados e textos. Conhecimentos esses que antigamente só estavam na cabeça do professor. Quando eu comecei a leccionar trabalhei com professores muito antigos e verifiquei isso mesmo.
Com a criação das novas áreas curriculares de Estudo Acompanhado, Área de Projeto e Formação Cívica nasceu um aluno novo, mais enriquecido.

E.T.L. – Qual foi a primeira escola em que leccionou? E em funções diretivas?
Dr. Costa Matos – A 1ª escola que leccionei foi o Liceu Nacional de Bragança, hoje apelidado de escola secundária Emídio Garcia em 1966. Ensinei língua portuguesa e História. Estive lá durante um ano. Gostei muito, não conhecia a cidade. Mais tarde, em 1969,  voltei para lá e ainda gostei mais. Foi o início da minha carreira. Na segunda vez que fui para a escola leccionei Psicologia e História, ao 7º ano e ao 10º ano. Desta segunda vez fiquei no liceu novo e o antigo passou a ser a preparatória que abriu em 1968. A 1ª escola em que estive como diretor, foi entre 1971 e 1974. Fui fazer estágio à escola Gomes Teixeira, no Porto e no final, o diretor convidou-me para ser diretor na escola preparatória de Ovar. Fui diretor durante 3 anos. Depois em 1974 com o 25 de Abril, acabaram com os cargos de diretor e começaram a dirigir as escolas, comissões de gestão. Assim, voltei a ocupar a escola em que era efetivo como professor, a escola Leonardo Coimbra. No ano seguinte, em 1975, passei a desempenhar funções de presidente do conselho diretivo até 1980. Depois vim para a Teixeira Lopes.

E.T.L. – Qual a disciplina que mais gostou de leccionar? Porquê?
Dr. Costa Matos – A disciplina que mais gostei de ensinar foi História, pois sou licenciado em História pela Universidade de Coimbra.

E.T.L. – Como reage às diferentes homenagens que lhe vão sendo feitas? Qual a mais importante?

Dr. Costa Matos – Eu tive muita sorte na vida, mas lutei muito por ela. Quando eu era pequeno, fui para escola primária da minha terra (situava-se no Minho na freguesia de Serafão, concelho de Fafe  e distrito de Braga). A escola ficava a 1,5km de minha casa. No primeiro dia de escola deitei um bocado a lágrima, porque tinha deixado os meus pais e os meus irmãos sozinhos. Aos dez anos fui para o liceu em Braga (Liceu Nacional de Sá de Miranda) e fiquei com a minha avó e com os meus irmãos mais velhos numa casa arrendada. Só íamos a casa no Natal, na Páscoa e nas férias grandes. O meu pai deixou-nos uma conta aberta lá numa papelaria para termos todos os materiais para a escola. No final de cada mês, o meu pai ia visitar-nos e pagava a conta. A minha avó esteve lá sempre connosco para cuidar de nós. Depois de acabar o liceu, entrei para a Universidade de Coimbra onde me licenciei em História. No meio do curso quando estava no terceiro ano, fui para a tropa. No primeiro ano de tropa, estive no quartel de Mafra, depois fui meio ano para o quartel de Braga. A seguir, fui para Moçambique mas ainda não havia guerra, só quando vim embora é que a guerra começou. Quando voltei a Portugal acabei o curso. Já aqui na Teixeira Lopes decidi continuar a minha formação, frequentando um curso superior especializado em Gestão Escolar, na Escola Superior de Educação do Porto durante 2 anos. Passado um ano, tirei o mestrado em Administração Escolar na Universidade Portucalense ,no Porto. Lutei muito na vida, mas os meus pais sempre me apoiaram e preocupavam-se muito com os estudos. Na minha freguesia, após a 4ª classe, só três alunos prosseguiram os estudos. Senti-me recompensado em 2002. Podia continuar na escola, mas precisava de descansar um pouco antes de morrer. Voltando à questão das homenagens, a câmara costuma fazer homenagem a alguém que apoia uma causa e decidiram oferecer-me uma medalha de mérito. Nessa homenagem, em sessão solene com outros homenageados, o presidente da câmara, Dr. Luís Filipe Menezes foi quem me entregou a medalha. Uma outra homenagem foi a da rua com o meu nome, Dr. Costa Matos. É uma rua pouco comprida, muito bonita que fica perto da escola das Devesas, da Teixeira Lopes e também de minha casa. Estou agradecido a todos. O agrupamento, quando foi criado eu já não estava cá. O doutor Filinto auscultou professores da Teixeira Lopes e das outras 5 escolas para que o agrupamento ficasse com o meu nome. Durante 5 anos, depois de reformado continuava a vir aqui a reuniões e a festas. Eu dizia às pessoas, professores, alunos, funcionários e também digo-vos a vós que devem rever-se no meu nome que está à porta da escola e na rua , pois o vosso nome também está lá inscrito e que corresponde ao esforço e empenho que cada um desenvolve na Teixeira Lopes e nas outras 5 escolas do agrupamento. Fiquei muito honrado. Para mim as homenagens mais importantes são o nome do agrupamento e da rua, pois estão expostos e a partilhar com as pessoas tamanha honra. Foi tudo recompensado depois de tanta luta. Estou agora a gozar a reforma.  

 E.T.L. – Durante o período em que esteve na escola Teixeira Lopes qual foi a atividade/momento que ainda gosta de recordar?
Dr. Costa Matos – Recordo coisas agradáveis durante os 22 anos que aqui estive. Uma vez alugámos um comboio especial só para alunos da escola e fomos até ao Zoo de Lisboa. Eram cerca de 800 alunos acompanhados por professores e funcionários. Apanhámos o comboio na estação das Devesas e saímos na estação de Sete Rios em Lisboa. Combinámos com a polícia de Lisboa para parar o trânsito para os alunos passarem. Foi uma visita muito agradável pois convivemos. Uma outra mais sentimental, através da área escola, foi a visita ao patrono Teixeira Lopes. Alguns alunos trabalharam a vida e obra dele. Combinamos um dia ir a aldeia dele e fomos ao seu túmulo em São Mamede de Ribatua. Levámos flores e uma placa que ficou lá no túmulo. Depois fomos visitar a casa dos seus pais. Fomos almoçar à escola de Alijó e, enquanto os outros alunos almoçavam, os nossos alunos do 5º ano tocavam flauta. Também gostei das feiras de livro, da vinda de escritores à escola e das feiras científicas. Também tivemos momentos maus: morreu um aluno numa aula de Educação Física (pendurou-se numa trave da baliza e caiu; esteve no hospital de Santo António e morreu); quando nos deslocamos ao Zoo de Lisboa, fomos  ao Centro de Saúde de Sete Rios porque uma aluna necessitava de ser operada de emergência ao apêndice. As instituições têm vida, a vida que nós lhe damos, tal como a vida do nosso país e da família. Aqui partilhamos angústias e tristezas, mas também, juntos ,vivemos momentos de alegria e crescimento.
E.T.L. – Como lidou com os diferentes comportamentos e atitudes dos alunos em diferentes épocas?
Dr. Costa Matos – Houve algumas mudanças pois antigamente, os alunos tinham mais respeito para com os professores e pais. Havia roubos de bonés , moedas e vidros partidos, nada de muito grave. Agora estão mais à vontade, mas há mais falta de respeito perante as funcionários e alguns professores…Dantes, os tempos eram melhores e mais sossegados embora eu reconheça que os alunos tenham mais conhecimentos (internet, institutos, etc). Agora também têm a oportunidade de praticar mais desporto, dentro e fora da escola. Hoje em dia, os pais passam mais tempo fora de casa, embora a sua relação entre pai e filho seja mais próxima do que antigamente. Agora os próprios professores têm dificuldade em acompanhar os alunos nas novas tecnologias.
E.T.L. – Como sempre foi uma pessoa muito dinâmica e ativa, como ocupa, agora, o seu tempo?
Dr. Costa Matos – Eu pedi a reforma para descansar antes de morrer, pois sentia-me bem com a vida. Quando trabalhava, passava pouco tempo com a minha família, não lhes dava apoio por causa do trabalho. Mas, agora, consigo dar apoio a minha família e aos meus netos. O médico disse para eu fazer caminhadas e para não jogar futebol. Gosto de dar caminhadas à beira-mar, penso na vida e aproveito para respirar. Gosto, de manhã, de beber um café e ler o jornal. Às vezes o Dr. Filinto acompanha-me, pois eu gosto de saber o que está a acontecer na escola. Depois entrego-me à família, fazemos compras, ajudo os meus netos mais pequenos…Tento compensar o tempo perdido. No início da reforma, vinha à Teixeira Lopes: às reuniões; às actividades e às festas. Passados cinco anos da reforma, disse ao Dr. Filinto que me queria reformar definitivamente. A última vez que tive na escola foi a 24 de Novembro de 2011 para ficar a conhecer o novo plano da escola.

E.T.L. – Fazendo o balanço de todo o seu percurso no ensino, sente que deixou alguma coisa por fazer?
Dr. Costa Matos – Neste momento, penso que fiz tudo o que tinha de fazer. Acho que a partir de agora tenho que cuidar da minha saúde, dos meus familiares e amigos.

E.T.L. – Agora que se anuncia a construção de uma nova escola Teixeira Lopes como é que gostaria que fosse a identidade dessa escola?
Dr. Costa Matos – Naquela época, havia manias de fazer escolas com esta arquitectura, tal como esta, Soares dos Reis, Gondomar, etc. Durante o Inverno, este tipo de escola devia estar fechado pois os alunos, professores e funcionários sofrem muito. A Teixeira Lopes está aqui há 38 anos e as salas de aula não têm condições, são muito desconfortáveis. A escola não está apropriada ao clima.
A escola nova já vem tarde, mas vai ser um palácio. Vou ter muito gosto, se for vivo, em estar lá na inauguração. Os alunos, professores e funcionários vão sentir-se mais satisfeitos devido à comodidade. Com isto vai haver mais sucesso escolar, mais rendimento e menos abandono escolar. Vai ser um novo mundo. Eu gostaria que fosse uma escola com mais conforto, cultura e com mais espaços de convívio.  

Com esta entrevista não só aprendemos a história de vida do Dr.Costa Matos mas também as raízes da nossa escola.
Entrevista realizada por:
Ana Rita, 9ºB
Armando, 9ºC
Francisca,9ºB
Leonor, 9ºC
Maria Manuel, 9ºB


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