(Antiga Escola Teixeira Lopes)

novembro 17, 2007

Lista da inverdade

Oito anos volvidos e quase toda a comunicação social apresentou os denominados rankings das escolas, tornando umas muito felizes e satisfeitas com os resultados obtidos e outras apreensivas e descontentes face a um mesmo indicador, o único, ou seja, os resultados brutos dos exames do Ensino Secundário.
“É a radiografia possível do desempenho do sistema educativo”, segundo um jornal de Lisboa, afirmação que deixa antever a superficialidade de um trabalho que é graduar as escolas secundárias e os colégios tendo em conta unicamente os “resultados dos exames nacionais do Ensino Secundário divulgados pelo Ministério da Educação” nos termos das “médias alcançadas pelos seus alunos”.
Julgo mesmo que a grande crítica a esta lista reside no particular de ter um único indicador que se admite num jogo de futebol onde só contam as bolas que entram na baliza, regra que todos aceitam; num trabalho como este, que se pretende sério, correcto e até com interesse científico, das duas uma: ou se muda o nome ou se considera mais indicadores.

Optando pela primeira situação (mudar o nome), em vez de rankings sugeria “escolas melhor classificadas tendo em conta os resultados dos exames dos seus alunos” ou “escolas melhor classificadas tendo em conta os resultados dos exames dos seus alunos e os critérios escolhidos pelo nosso jornal”!! Caso a opção recaísse na segunda hipótese (pluralidade de indicadores), a mais aconselhável, julgo que deveriam ser considerados, entre outros, factores que avaliem o efeito da escola sobre os alunos (valor que a escola acrescenta desde que o aluno entra na escola até que sai) e que tenha em conta o nível sócio-económico dos pais e da região onde a escola se insere, além de outros indicadores. Isto daria muito trabalho!!

Aliás, a Ministra da Educação diz ser fácil “fazer uma lista. Até podíamos produzir 30 listas diferentes. O difícil é encontrar o caminho para se encontrar níveis de qualidade”. Acrescenta Maria de Lurdes Rodrigues que “apenas um indicador” não é suficiente para avaliar a qualidade das escolas e que “Há muita vida nas escolas que não se traduz nos resultados dos exames”. Embora não se entenda por que motivo os resultados dos exames são disponibilizados em bruto, à mercê de uma comunicação social sedenta de fazer os seus rankings, é intenção deste governo fornecer às famílias informação concreta sobre as capacidades das escolas com parâmetros não mensuráveis.

João Formosinho diz que os rankings não passam de “indicadores da selecção de alunos que é feita nas escolas”, sendo contrário à existência dos mesmos. “As escolas melhor classificadas são aquelas frequentadas por jovens oriundos de famílias abastadas”, diz este eminente investigador para quem “os rankings revelam a relação que existe entre sucesso escolar e a posição social das famílias”. Aliás, um estudo recente revela isso mesmo, ou seja, “há uma forte relação entre o nível sócio-económico-cultural e o desempenho escolar dos alunos”.
Estou convencido que com base nesta lista da inverdade é incorrecto dizer que a escola que ficou no 1º lugar é a “melhor” e a que ficou como lanterna vermelha é a “pior”, independentemente de ser pública ou privada. E se assim não é, pergunto: obteria a escola que ficou em 1º lugar o mesmo resultado se estivesse inserida no território educativo da escola que ficou em último lugar, com os alunos desta? Conseguiriam os alunos da escola que ficou em último lugar ter uma classificação melhor se frequentassem a escola que ficou no lugar cimeiro?

Ramos do Ó, especialista em História da Educação, é forte crítico deste fenómeno em que “as pessoas não estudam para saber, estudam para exibir o conhecimento no exame”, acrescentando que “os colégios fazem é treinar os alunos para fazerem uma boa prova”. É obrigação da escola ser um instrumento que permita que um aluno de um meio sócio-económico desfavorecido suba ao nível do que vem de um meio mais privilegiado, mas esta “informação é decisiva para o reajuste das elites e para esta coisa de estigmatização social que a escola não devia ter”. Aliás, o que o ensino privado rejeita, o ensino público aproveita, necessária, moral e constitucionalmente.

Em nada ajuda o sistema educativo português esta lista em que as escolas são melhor ou pior posicionadas de acordo com os diferentes critérios dos meios de comunicação social. Outros, muitos outros indicadores devem ser usados se de facto se pretende hierarquizar as instituições de ensino.

Quando assim for, tenho a certeza que os resultados irão modificar totalmente os lugares que as escolas conquistaram nesta lista da inverdade, mostrando que a natural heterogeneidade de uma escola, de uma sociedade, é mais benéfica que uma forçada homogeneidade.
Filinto Lima

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